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[Especial Rodrigo Amado] “Surface” com Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro, Tomas Ulrich e Ken Filiano, 2007

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E chegámos a 2007. Rodrigo Amado voltava a encontrar velhos amigos Carlos Zíngaro e Ken Filiano. Juntou também Tomas Ulrich e nasceu o disco “Surface”:

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Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro, Tomas Ulrich e Ken Filiano – “Surface” (European Echoes, 2007)

Gravado em 2006, este é um dos meus discos mais atípicos. Depois de Teatro, dedicado ao meu Avô, Fernando Amado, fundador da Casa da Comédia, encenador e autor de teatro, em Surface procurei ir mais longe na criação de um conceito que desse unidade ao projecto. Ao ouvir as gravações, feitas com uma formação muito pouco convencional de saxofone, violino, violoncelo e contrabaixo (ao trio de The Space Between juntou-se o excepcional Tomas Ulrich, um dos mais importantes violoncelistas na cena de Nova Iorque) percebi que tinhamos ido na direcção de uma música de câmara e que o elemento jazz que existia em The Space Between tinha dado lugar a um outro som, mais abstracto e austero, algo cinematográfico. A primeira associação que fiz, de forma intuitiva, foi com as imagens do Stephen Shore, um fotógrafo norte-americano com quem eu andava particularmente fascinado. Este foi também o período onde comecei a dedicar cada vez mais tempo e atenção à fotografia e, por isso, a associação ao Stephen Shore fazia todo o sentido. Editei a música mais do que o habitual, fazendo cortes de excerptos que me interessavam, pelo ambiente, pela energia que evocavam, tornando mais fácil associá-los a imagens. Os nomes dos temas foram inspirados na obra de Shore, incluindo uma Surface Suite (American Surfaces é o título de um dos seus livros mais conhecidos e altamente influente). Incluí também na edição uma série de fotografias minhas tiradas em Nova Iorque durante as primeiras visitas à cidade. Mais tarde, procurei o contacto do Stephen para lhe enviar o disco. Não foi fácil, mas finalmente, penso que através do André Cepeda, consegui. Ele gostou e enviou-me Tall in Texas, uma série de 10 postais feitos em 1971, assinada e dedicada. Foi incrível sentir o alcance e as ligações que se podem criar através de um projecto como este. Foi também nesta altura que participei num workshop de fotografia na Kameraphoto, com o António Júlio Duarte e a Céu Guarda. Tinha muito pouca experiência mas uma enorme vontade de saber, de aprender mais. Na altura, houve de imediato uma empatia especial com o António, talvez pela enorme paixão que ele também tem por música. Terminado o workshop, propus-lhe se não queria continuar a acompanhar o meu trabalho, e expliquei que não poderia ser num esquema tipo aulas porque não tinha dinheiro para lhe pagar. O António disse que sim, que estaria interessado nisso e, surpreendentemente, propôs-me fazermos um esquema de “trocas” – em cada sessão que fizéssemos eu dáva-lhe um disco de jazz escolhido e comentado por mim. E assim foi, durante alguns anos mantivémos aquela extraordinária colaboração que foi determinante para todo o meu trabalho fotográfico e que veio dar ainda origem a uma enorme amizade.

Rodrigo Amado

[OUVIR]

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2002 Lisbon Improvisation Players ‎– “Live_LxMeskla” (Clean Feed) Ler

2003 Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro e Ken Filiano – “The Space Between” (Clean Feed) Ler

2004 Lisbon Improvisation Players – “Motion” (Clean Feed) Ler

2006 Lisbon Improvisation Players – “Spiritualized” (Clean Feed) Ler

2006 Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “Teatro” (European Echoes, 2006) Ler

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[Especial Rodrigo Amado] “The Abstract Truth” com Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love, 2009

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Repetindo a trupe de “Teatro”, Rodrigo Amado regressava em 2009 com um novo disco. Em conjunto com Kent Kessler e Paal Nilssen-Love, fazia nascer “The Abstract Truth”. Foram assim esses dias:

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Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “The Abstract Truth” (European Echoes, 2009)

Estávamos em finais de 2007 quando surgiu um convite por parte do CCB (ainda sob a liderança de Mega Ferreira) para comissariar um Festival exclusivamente dedicado à música portuguesa, abrangendo jazz, música clássica, erudita contemporânea e música improvisada. Os comissários fomos eu, o António Pinho Vargas e o Pedro Santos, com o qual eu tinha na altura uma empresa de agenciamento e produção de espectáculos que trouxe a Portugal espectáculos memoráveis de David Sylvian, Steve Reich, Laurie Anderson, Robert Fripp, Antibalas Afrobeat Orchestra ou Ryuichi Sakamoto, entre muitos outros. Claro que o convite nos deixou a todos super entusiasmados e ficou no ar a possibilidade de se fazer algo verdadeiramente especial. Ainda hoje penso em como é possível que este tipo de eventos não aconteça regularmente pela mão das principais instituições estatais, como é o caso do CCB ou da Casa da Música. O referido ciclo, ao qual foi dada a designação “Música Portuguesa Hoje”, a decorrer de 11 a 13 de Julho de 2008, era inicialmente suposto acontecer de 3 em 3 anos, o que não se veio a verificar, infelizmente. Integrados na programação estavam concertos de Ricardo Rocha, Lume Big Band, Camané, Bernardo Sassetti, Mário Laginha, João Paulo, Sei Miguel, Ernesto Rodrigues, Pocketbook of Lightning (Nuno Rebelo e Marco Franco), Orquestra Jazz de Matosinhos, Quarteto de André Fernandes, Rafael Toral Space Trio e Carlos ‘Zíngaro’ (com John Butcher e Gunter Muller), Orquestra Sinfónica Portuguesa, Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orchestrutopica, Orquestra de Câmara Portuguesa e Orquestra de Altifalantes. Foi referida como “a maior mostra de música portuguesa realizada até hoje”, o que ainda hoje será verdade, e foi um enorme sucesso, a nível artístico e de público. Ficou também acordado que seria incluído no festival um dos meus projectos, oportunidade que aproveitei para tornar a reunir o trio com o Kent e o Paal. A música gravada em Teatro e a fortíssima empatia que sentia a tocar com estes dois músicos tinha-me deixado a certeza de que este era um projecto que eu queria gravar regularmente. Uma espécie de barómetro da minha própria música. E assim, no dia seguinte ao fim do festival (14 de Julho de 2008) entrámos em estúdio. A sessão foi fortíssima e The Abstract Truth tornou-se um novo marco na minha discografia ultrapassando o relevo dado a Teatro. O conceito de “verdade abstracta” foi escolhido por acreditar que, apesar de frequentemente abstracta em termos de formas, harmonia e melodia, a música improvisada é profundamente verdadeira. Na improvisação, ao tocarmos, ficamos totalmente vulneráveis e temos de ser nós próprios. Não dá para fingir, ou encenar, como na pop ou no rock. Aquilo que tocamos no momento está directamente ligado a quem somos, naquele lugar e naquele preciso momento. E os melhores e mais poderosos improvisadores são aqueles que melhor sabem quem são e o que querem fazer. A capa do disco é novamente retirada de uma pintura do meu pai e representa também uma “verdade abstracta” – um beijo que é afinal apenas um recorte num pedaço de madeira.

Rodrigo Amado

[OUVIR]

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2002 Lisbon Improvisation Players ‎– “Live_LxMeskla” (Clean Feed) Ler

2003 Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro e Ken Filiano – “The Space Between” (Clean Feed) Ler

2004 Lisbon Improvisation Players – “Motion” (Clean Feed) Ler

2006 Lisbon Improvisation Players – “Spiritualized” (Clean Feed) Ler

2006 Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “Teatro” (European Echoes, 2006) Ler

2007 Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro, Tomas Ulrich e Ken Filiano – “Surface” (European Echoes, 2007) Ler

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[Especial Rodrigo Amado] “Rodrigo Amado em “Motion Trio”, 2009

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O ano de 2009 não terminaria sem Rodrigo Amado nos oferecer mais um disco. “Motion Trio”, celebra o feliz encontro do saxofonista com Miguel Mira e Gabriel Ferrandini. Começava uma nova era no percurso musical de Rodrigo Amado:

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Rodrigo Amado – “Motion Trio” (European Echoes, 2009)

Gravado em Julho de 2009 e editado pouco tempo depois, este disco marca o início de uma aventura incrível partilhada com o Miguel Mira e o Gabriel Ferrandini. De alguma forma, marca também o início de uma nova era na cena da música improvisada e do jazz criativo lisboeta, pelas ligações que foi criando e pelas portas que foi abrindo. Alguns anos atrás, apresentado por uma amiga comum, fui convidado a participar numa jam session em casa do Miguel Mira. A empatia foi imediata e passei a ter uma presença regular nessas sessões. Aquilo nem era bem uma jam session, era mais uma enorme festa que acontecia habitualmente aos domingos e que começava com um jantar onde se reuniam os músicos e um grupo grande de amigos que vinha para assistir. Esses jantares eram, por si só, épicos. Depois íamos para casa do Miguel, uma casa enorme, linda, no meio do campo, sem preocupações com o ruído para os vizinhos, e tocávamos toda a noite até aguentar, muitas vezes até altas horas da madrugada, com os músicos a alternarem em formaçoes definidas no momento. Essas sessões repetiram-se durante mais de 2 anos, com a presença regular de músicos como o João Lucas, Rui Horta Santos, José Parrinha, Eduardo Chagas, entre muitos outros. Foi numa dessas sessões que apareceu um miúdo que tocava bateria, o Gabriel Ferrandini, com pouco mais de 20 anos e uma forma de tocar invulgarmente diferente e consistente. O impacto foi imediato. Pouco tempo depois formámos o Motion Trio, concretizando um desejo que eu já tinha há anos – o de ter uma working band para trabalhar de forma intensa e regular. Durante bastante tempo ensaiavamos no Teatro Ibérico, no palco principal. Era O SÌTIO perfeito para se trabalhar. Era também um alto luxo pelo qual pagávamos muito pouco e, como tal, chegou um dia ao fim. Passámos depois para a pequena sala de ensaio que existia no Trem Azul, The Kitchen, como era conhecida, por se tratar de uma antiga cozinha. Fizemos ali centenas de ensaios e o sítio começou a tornar-se um ponto de encontro – quem aparecia, tocava. Passavam por lá regularmente o Hernani Faustino, o Rodrigo Pinheiro, o Luís Lopes, o Parrinha, ou o Pedro Sousa, e gerou-se uma dinâmica de criação imparável, que continua até hoje. Eram ensaios longos e intensos. Ao fim de um tempo, o trio começou a ficar conhecido pelos concertos de alta energia, e por um tipo de improvisação com ligações profundas a uma linguagem jazz. Lembro-me de um concerto memorável no Hot Clube, num dos festivais organizados pelo Pedro Costa e pelo Pedro Rocha Santos, em que o impacto da música foi tão grande que ficámos os três com a certeza de que este era um projecto para continuar e para desenvolver e preservar. É isso que temos feito até hoje, apesar dos previsíveis altos e baixos e das dificuldades de nos encontrarmos num país periférico como Portugal. Foi também nesta altura que defini como principal objectivo conseguir entrar de forma regular no circuito europeu de concertos e clubes. Era essa a única forma de conseguir subsistir apenas a tocar (e a fotografar…e a escrever).

Rodrigo Amado

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[Especial Rodrigo Amado] Rodrigo Amado, Taylor Ho Bynum, John Hébert e Gerald Cleaver em “Searching for Adam”, 2010

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Em 2010, a carreira de  Rodrigo Amado sofreria um importante impulso. Sobre a razão, essa chama-se “Searching for Adam”:

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Rodrigo Amado, Taylor Ho Bynum, John Hébert e Gerald Cleaver – “Searching for Adam” (Not Two Records, 2010)

A minha entrada no circuito europeu de clubes e festivais foi lenta e um pouco frustrante. Depois da tour realizada na Polónia com os Yells at Eels do Dennis Gonzalez, que não podia ter corrido melhor, fiquei com a sensação de que a partir daí seria mais fácil e natural começar a tocar regularmente na Europa. Nada mais errado. Apesar de enviar dezenas e dezenas de emails com propostas, um pouco para todo o lado, as respostas eram quase inexistentes. Fiz algumas estadias em Berlim, onde toquei em trio com o Rui Faustino e o Jan Roder e aproveitei para fotografar intensamente a cidade, toquei no London Jazz Festival com o Acácio Salero, o Dave Kane e o Paul Dunmall, e pouco mais. Consciente agora que este seria um processo que ia demorar tempo e do qual eu não podia desistir, comecei a pensar num projecto conceptual de grande impacto, um pouco para obrigar a que algo acontecesse. A minha ideia era criar um projecto multidisciplinar que englobasse música e fotografia. Estava desde 2002 a fotografar a cidade de Nova Iorque, aproveitando idas para concertos e outras, e tinha já um conjunto de imagens considerável. Quando comecei a pensar num conceito para apresentar essas imagens cheguei à conclusão de que não queria fazer apenas “mais uma” exposição sobre nova iorque. Queria enquadrar as imagens por forma a que fosse narrada uma história, numa perspectiva totalmente pessoal, com personagens e ambientes que, por acaso, se encontravam em Nova Iorque, mas também poderia ser numa qualquer outra cidade. Por outro lado, senti que existiam semelhanças grandes em termos de métodos, na música e na fotografia, e que ao fotografar, seguia também um processo de improvisação. Em 2007, ano em que foram feitas a quase totalidade das imagens que compõem a série, estive 3 semanas em NY a fotografar, exclusivamente, e limitáva-me a sair para a rua e esperar que as imagens “viessem ter comigo”, sem qualquer tipo de planeamento. Acordava de madrugada e saia, ainda de noite, para apanhar o nascer do sol, e ficava na rua muitas vezes até anoitecer. A grande disponibilidade a que isso me obrigava beneficiou a naturalidade das imagens, numa cidade em que cada vez é mais difícil fotografar. Pensei também que o processo pelo qual estava a passar, de procura de uma linguagem própria na fotografia, era idêntico ao que tinha passado na música. E começou a formar-se esta ideia de busca e de associação entre as imagens e a música. Tinha na altura uma exposição marcada para a galeria Módulo e queria fazer um espectáculo que incluísse a projecção dessas imagens, sequenciadas e trabalhadas em tempo real, por forma a criar uma interacção improvisada entre música e imagem. Convidei o Taylor Ho Bynum (trompete), o John Hébert (contrabaixo) e o Gerald Cleaver (bateria), todos eles também de Nova Iorque, e consegui marcar duas datas importantes, na Casa da Música e no grande Auditório da Culturgest. Depois, convidei ainda um outro fotógrafo, o Guillaume Pazat, para sequenciar as imagens em tempo real no concerto, de modo a que a ligação directa entre música e imagem obedecesse novamente aos princípios da improvisação. No final, ficou “Searching for Adam”, que é no fundo uma narrativa imaginária de uma procura por uma linguagem própria. Os concertos e a exposição foram um enorme sucesso e aproveitei, como habitual, para gravar o quarteto em estúdio. Foi essa gravação que deu origem a este Searching For Adam, o álbum mais celebrado da minha discografia e que impulsionou fortemente a minha projecção a nível internacional.

Rodrigo Amado

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2009 Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “The Abstract Truth” (European Echoes, 2009) Ler

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[Especial Rodrigo Amado] Rodrigo Amado Motion Trio featuring Jeb Bishop em “Burning Live at Jazz ao Centro”, 2012

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Em 2012, Rodrigo Amado expressava em disco o encontro do seu Motion Trio com o trombonista Jeb Bishop. O resultado foi este fantástico “Burning Live at Jazz ao Centro”. Sobre o resto, Rodrigo Amado deixa-nos mais algumas palavras:

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Rodrigo Amado Motion Trio featuring Jeb Bishop – “Burning Live at Jazz ao Centro” (JACC Records, 2012)

Gravado ao vivo no Festival Jazz ao Centro, em Coimbra, este álbum captou o Motion Trio numa fase de grande evolução. O encontro com o Jeb foi extraordinário. Conhecia bem a música dele, principalmente através dos discos que gravara com os Vandermark 5, mas nada nos podia preparar para a personalidade aberta e calorosa do Jeb, para a absoluta diversão que foi andar com ele na estrada. Lembro-me de alguns concertos memoráveis dessa digressão nacional que realizámos juntos em 2011, nomeadamente o concerto da ZDB, total explosão de energia bem característica de um primeiro encontro, o concerto de Barcelos, no castelo, rodeado de uma atmosfera mágica, ou aquele que fizemos no Serralves em Festa, um dos mais consistentes da tour. O trio com o Miguel e o Gabriel estava numa fase de grande trabalho, com ensaios intensos a um ritmo quase diário. Sabíamos que íamos encontrar um jazzmen brutal e poderoso e queríamos estar à altura. Acho que a preparação intensa e a vontade de tocar e evoluir eram tantas que conseguimos surpreender o Jeb. A tarde que antecedeu o concerto de Coimbra foi algo caótica, marcada por uma série de surpresas desagradáveis – atrasos dos técnicos, incertezas relativas a horários e detalhes de produção e, pior de tudo, a necessidade de desmontar tudo a seguir ao teste de som devido à realização de um evento no mesmo espaço onde ia decorrer o concerto. Tínhamos cerca de uma hora para remontar tudo e começar a tocar. A tensão era enorme. No final do concerto, o Jeb e o Gabriel estavam desolados, achavam que o concerto tinha corrido muito mal, que não gostavam do que tinham feito. Eu e o Miguel tínhamos outra opinião e estavamos bastante satisfeitos. Alguns meses mais tarde, quando ouvimos finalmente a gravação do concerto, fomos todos apanhados de surpresa. A música estava incrível, super focada. Numa crítica importante que saiu na Wire, o Dan Warburton comparava a gravação a álbuns históricos com sax e trombone como o Outspan Nº1 do Brötzmann, com o Albert Mangelsdorff, ou o Quartet (Dortmund) 1976 do Anthony Braxton com o George Lewis. Claro que todo o processo foi para nós uma lição sobre a percepção do nosso próprio trabalho e a importância de não nos precipitarmos numa autocrítica imediata. Muitas vezes é necessária alguma distância para conseguirmos ouvir o que fizémos com objectividade. 2011 foi também o ano da segunda tour dos Humanization Quartet na costa leste dos Estados Unidos. O grupo é formado por mim, o Luís Lopes na guitarra e os irmãos Aaron e Stefan González no contrabaixo e bateria, respectivamente. O Aaron e o Stefan, filhos do Dennis González e texanos de gema, são como irmãos para nós. Conhecemo-nos em Lisboa, numa das visitas do Dennis, e desde aí nunca mais parámos de tocar, primeiro nos Yells at Eels, com os quais fiz as tour americana e polaca, e depois nos Humanization. A mistura de influências, nossas (minhas e do Luís) com as deles (jazz, hardcore, grindmetal, punk rock…) é explosiva. Na primeira tour que fizemos nos Estados Unidos já tínhamos tocado em cidades como Dallas (onde passámos cerca de 15 dias a ensaiar antes de ir para a estrada), Fort Worth, Austin, Houston, New Orleans, Atlanta, Asheville, Greensboro, Washington, Filadélfia e Nova Iorque, num ritmo diabólico de concertos quase diários com viagens de centenas de kilómetros de concerto para concerto e aventuras que nos deixaram a sensação de andar na estrada durante vários meses (na realidade foram apenas duas semanas). Nesta segunda tour, com a banda a tocar uma música cada vez mais orgânica, com composições de todos os membros do quarteto, fomos ainda mais longe e estendemos as datas a cidades como Detroit, Chicago ou Madison, no norte, já próximo da fronteira com o Canadá. Em Detroit, cidade que me marcou pelo ambiente pós-apocalíptico e desolado (incrível para fotografar) tivemos a nossa maior aventura de sempre. De noite, com um grupo grande de amigos, alguns deles metaleiros, todos tatuados, com cerca de 2 metros de altura (malta grande), íamos a caminhar na rua a dirigirmo-nos para um concerto, e fomos atacados por um grupo enorme de jovens negros com facas. O Luís, que era o último do grupo, ainda apanhou um soco fortíssimo na babeça que lhe afectou a audição durante alguns dias. A nossa sorte foi não perdermos o sangue frio, não entrar em pânico. Virámo-nos para trás, com os elementos mais fortes à frente, e fomos caminhando de costas numa troca violenta de palavras. Quando as coisas pareciam mesmo ir explodir, passámos um cruzamento em que eles pararam. Ainda hoje não percebemos porquê e recordamos a situação como um aviso à importância de cuidados a ter em movimentações nocturnas, particularmente numa cidade como Detroit.

Rodrigo Amado

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2009 Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “The Abstract Truth” (European Echoes, 2009) Ler

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[Especial Rodrigo Amado] Rodrigo Amado Motion Trio com Jeb Bishop em “The Flame Alphabet”, 2013

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A experiência foi tão marcante, que um ano depois, em 2013, Rodrigo Amado voltava a aliar seu Motion Trio ao trombonista Jeb Bishop. Daí nasceu este “The Flame Alphabet”:

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Rodrigo Amado Motion Trio featuring Jeb Bishop – “The Flame Alphabet” (Not Two Records, 2013)

Esta foi a primeira vez que utilizei para a capa de um disco uma imagem de alguém que não conhecia. Foi um processo curioso. Numa das passagens rotineiras pelo facebook dei de caras, por acaso, com esta pintura de um artista norte-americano – Zachary Worth. Na altura nem lhe dei demasiada importância mas a imagem ficou-me na cabeça. Alguns meses mais tarde, ao trabalhar no conceito para este segundo álbum com o Jeb, andava às voltas com a obra de Ben Marcus e a distopia da linguagem proposta no seu livro “The Flame Alphabet” e lembrei-me de novo da pintura pela associação com a imagem da montanha a arder. Ainda tive de pesquisar um pouco para a encontrar de novo, mas consegui. Entrei em contacto com o Zachary através do facebook e perguntei-lhe se podia utilizá-la. Surpreendentemente, ele conhecia bem a minha música (tinha inclusive alguns discos meus) e acedeu de imediato. O nome pensado inicialmente era Burning Mountain, mas depois acabei por optar mesmo por The Flame Alphabet – a analogia a um alfabeto musical que “queima” era perfeita. Este foi também um período em que eu e o Gabriel começámos a trabalhar intensamente em duo, paralelamente com o trabalho do Motion Trio. A exuberância rítmica da música era cada vez maior e nós sentíamos a necessidade de trabalhar essa vertente de forma exaustiva e consistente. Começámos a fazer pequenas séries de concertos em duo um pouco por todo o país. O esquema era sempre o mesmo – fim de semana alargado, metíamo-nos no carro com a bateria, o sax e um monte de discos e íamos por aí fora a tocar todas as noites. Uma das saídas mais memoráveis, marcada por aventuras gigantescas e inesquecíveis, começou no CCB, a tocar ao ar livre, passou pelo Mercado Negro, em Aveiro, Carpe Diem, em Santo Tirso, Armazém do Chá, no Porto (uma festa de aniversário épica, que acabou na esquadra), o Clube de Bragança, em Bragança (aniversário da Dedos Biónicos) e o A9, em Leiria. A intensidade era tal (rock’n’roll life!!) que ainda hoje não sei como sobrevivemos. Já no início de 2013 surgiu para o duo uma oportunidade que se viria a revelar marcante. Fomos convidados para uma série de concertos no Brasil. Tocámos no Rio de Janeiro (foi a minha primeira visita à cidade e foi amor à primeira vista) em São Paulo e em Santos, e tivemos a sorte de apanhar o período que antecede o Carnaval, cerca de duas semanas antes. Aproveitámos para ficar uma semana no Rio. Com poucos turistas na rua (a invasão do Carnaval ainda não tinha começado), os dias eram passados entre longos banhos na praia que ficava ao fim da nossa rua, “chope” e cachaça, açaí e granola, ensaios dos blocos de carnaval nas ruas da cidade (loucura total e absoluta), e ainda tivemos o absoluto privilégio de assistir a um ensaio geral da Escola do Salgueiro, na Tijuca, que foi básicamente uma réplica exacta da actuação no Carnaval, algumas semanas depois. Chegámos cedo e a festa já estava montada – milhares de pessoas dentro de um pavilhão gigantesco com um palco elevado de cada lado e bares espalhados por todo o recinto. Num palco estavam os cantores, bailarinos e banda convencional, no outro estava a bateria de samba com dezenas de percussionistas e sopros. A música nunca parou durante cerca de 5 horas e toda a gente dançava (acho que nunca dancei durante tanto tempo seguido e com tanto prazer). O efeito dos dois palcos era hipnótico e mágico e os arranjos tiravam partido do stéreo natural com trechos longos de pergunta-resposta a balançar de palco para palco e todos os músicos a tocar como se não houvesse amanhã. Absolutamente inesquecível e um dos momentos musicais que mais me marcou. Saí de lá a flutuar.

Rodrigo Amado

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[Especial Rodrigo Amado] Rodrigo Amado Motion Trio com Peter Evans em “Live in Lisbon” (2014)

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E chegámos ao intenso 2014. “Live in Lisbon” é o primeiro dos três discos editados em 2014 por Rodrigo Amado. Foram assim esses dias:

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Rodrigo Amado Motion Trio featuring Peter Evans – “Live in Lisbon” (NoBusiness Records, 2014)

2014 foi para mim, em termos de edições, o ano mais intenso. Sairam este Live in Lisbon (a imagem da capa é novamente retirada de uma pintura do meu pai), o The Freedom Principle, também com o Peter Evans, o primeiro álbum do Wire Quartet, e ainda Far Out, a minha segunda colaboração com os rockers Black Bombaim. Gravado ao vivo no Teatro Maria Matos, em Março de 2013, Live in Lisbon documenta o encontro inicial com o Peter Evans, um dos mais extraordinários improvisadores da actualidade. Quando surgiu o convite para o concerto do Maria Matos, eu estava num período de audição intensa do ‘Ghosts’ (disco de Evans editado em 2011). Estava completamente fascinado com a linguagem do Peter e com a intensidade pouco habitual das improvisações. Naquele momento era o músico com o qual me imaginava mais frequentemente a colaborar, e decidi fazer-lhe o convite. No fundo, tratou-se de um “risco calculado”, pelo menos era o que eu pensava antes do concerto. O facto de ele ser um virtuoso absoluto no trompete, de ser considerado um dos mais fortes improvisadores em actividade e ter um estilo exuberante e nada discreto, eram motivos para pensar que não iríamos ter uma tarefa fácil no palco do Maria Matos. Mas, apesar do Motion Trio estar bem rodado, já com alguma experiência de colaborações com músicos como o Jeb Bishop ou o Steve Swell, também eles improvisadores de primeiro plano, nada nos preparara para o que iria acontecer. Quando subimos ao palco fomos apanhados de surpresa! O turbilhão de ideias lançado pelo Peter era avassalador e todas as suas opções eram inesperadas, verdadeiras “bombas” que o trio tinha depois de integrar, processar e transformar em música criada no momento. Foi como uma batalha campal. Um dos temas do álbum tem o nome de Conflict Is Intimacy e esse título tem a ver com essa componente do inesperado de que já falei, mas também com o facto de que todas as ideias do Peter surgiam por oposição. Quando aquilo que o trio estava a tocar sugeria uma melodia lenta e contínua, o Peter disparava sons que pareciam tiros de pistola, pneus a chiar ou uma chaleira ao lume. Num momento seguinte, quando era sugerido algo com um ritmo forte e bem marcado, o Peter tocava um silvo contínuo, num volume tão baixo que ameaçava “destruir” por completo aquilo que nós fazíamos. Em cada momento, havia cinco ou seis diferentes níveis de comunicação a acontecer ao mesmo tempo e, para complicar ainda mais as coisas, havia pequenos fragmentos em que o Peter imitava exactamente o que um de nós estava a fazer, tornando difícil de perceber quem estava a tocar o quê. E foi assim durante todo o concerto, intensidade máxima, sempre no vermelho, com todas estas linguagens em oposição mas com um objectivo comum; criar música em tempo real. Passar juntos por uma experiência dessa intensidade, trouxe-nos depois um grau de intimidade muito particular com o Peter, como se já o conhecêssemos há anos. Na realidade só o conhecemos na véspera do concerto. Foi incrível. Todos nós concordamos que foi uma experiência que nos mudou para sempre.

Rodrigo Amado

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2003 Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro e Ken Filiano – “The Space Between” (Clean Feed) Ler

2004 Lisbon Improvisation Players – “Motion” (Clean Feed) Ler

2006 Lisbon Improvisation Players – “Spiritualized” (Clean Feed) Ler

2006 Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “Teatro” (European Echoes, 2006) Ler

2007 Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro, Tomas Ulrich e Ken Filiano – “Surface” (European Echoes, 2007) Ler

2009 Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “The Abstract Truth” (European Echoes, 2009) Ler

2009 Rodrigo Amado – “Motion Trio” (European Echoes, 2009) Ler

2010 Rodrigo Amado, Taylor Ho Bynum, John Hébert e Gerald Cleaver – “Searching for Adam” (Not Two Records) Ler

2012 Rodrigo Amado Motion Trio featuring Jeb Bishop – “Burning Live at Jazz ao Centro” (JACC Records) Ler

2013 Rodrigo Amado Motion Trio featuring Jeb Bishop – “The Flame Alphabet” (Not Two Records) Ler

O post [Especial Rodrigo Amado] Rodrigo Amado Motion Trio com Peter Evans em “Live in Lisbon” (2014) aparece primeiro no A Trompa.

[Especial Rodrigo Amado] Rodrigo Amado Motion Trio com Peter Evans em “The Freedom Principle”, 2014

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Depois de “Live in Lisbon”, “The Freedom Principle” é o segundo disco lançado por Rodrigo Amado em 2014. O trompetista Peter Evans foi de novo o convidado especial:

thefreedomprinciple

Rodrigo Amado Motion Trio featuring Peter Evans – “The Freedom Principle” (NoBusiness Records, 2014)

The Freedom Principle foi gravado dois dias depois do concerto que deu origem a Live in Lisbon. Inicialmente tínhamos estúdio marcado para o dia seguinte ao concerto, mas quando lá chegámos o meu estado de cansaço (esgotamento mesmo), físico e mental, era tão grande que ao fim de alguns minutos decidi interromper a sessão e cancelar o dia de estúdio. O que aconteceu (nunca antes tinha cancelado uma gravação e espero não voltar a acontecer) mostra bem a violência do nosso primeiro encontro com o Peter. Como tínhamos um segundo dia marcado, acabou por não ser grave. Aproveitámos e fomos passear para a praia, comer e beber, e divertirmo-nos que nem uns loucos. A sensação foi idêntica áquela que tínhamos quando éramos putos e um professor faltava num dia de exame. No dia seguinte estávamos descansados e super focados. O desafio e acontecimentos do Maria Matos tinha-se transformado em conhecimento, em desenvolvimento pessoal e musical. Sentíamos realmente que algo tinha mudado. A sessão correu super bem e tocámos alguma da música mais incrível que fizemos até hoje. No dia seguinte organizámos um jantar de despedida em minha casa e convidámos o Nobu (Nobuyasu Furuya), um saxofonista japonês, também cozinheiro, que viveu algum tempo em Lisboa, para se juntar a nós. Como somos todos fixados em comida picante (e descobrimos que o Peter também era) ficou combinado que era eu e o Nobu a cozinhar, algo que fosse PICANTE. O Nobu apareceu lá em casa com uma caixa quadrada, linda (elegância nipónica), dividida em três tabuleiros com três pratos vegetarianos diferentes, cada um mais picante que o outro. A única vez que comi algo tão picante, foi também cozinhado pelo Nobu, em casa do Pedro Sousa. Mas nesse dia, depois da intensidade dos dias de concerto e estúdio, aquilo estava a saber-nos mesmo bem. Depois da carne que eu tinha cozinhado, também com muitos zeros na escala de Scoville, havia em cima da mesa alguns pimentos vermelhos (do tamanho de um dedo) que o Nobu tinha trazido para nos mostrar o que utilizava para cozinhar. De repente, o Peter pega num desses pimentos, coloca-o ao pé da boca e desata a gritar, “Pepper pact, pepper pact”!!, olhando para nós com ar de desafio. Só ao fim de algum tempo percebemos que a ideia era cada um de nós comer um daqueles pimentos, inteiro, como forma de assinalar um pacto. A ideia era aterradora mas suficientemente poética para nos convencer. E o impensável aconteceu – cada um de nós comeu, inteiro, um dos pimentos mais picantes do planeta. Íamos morrendo. Ficámos super vermelhos, com convulsóes, sem conseguir falar. O Miguel Mira, que é o mais sensível e nem é louco por picante, desapareceu durante largos minutos. Acabou por ser uma experiência incrível que aprofundou os laços com o Peter e nos deixou alguma vontade de repetir, pelo menos a mim e ao Gabriel. Nesse ano (2013), o Motion Trio tocou com o Jeb Bishop, no Hot Clube, com o Luís Lopes, no Festival de Jazz de Liubliana, com o Steve Swell, no Festival do Avante, e com o Sei Miguel, numa celebração de três dias da loja da Trem Azul, e em todas essas ocasiões sentimos a força transformadora que tinha ficado do encontro com o Peter. Quando nos juntámos de novo, em Março de 2015, para uma tour Europeia que passou por alguns dos mais importantes clubes europeus como o Cafe Oto, em Londres, Jazzhouse, em Copenhaga, ou o Pardon To Tu, em Varsóvia, parecia que nunca tínhamos deixado de tocar juntos.

Rodrigo Amado

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2004 Lisbon Improvisation Players – “Motion” (Clean Feed) Ler

2006 Lisbon Improvisation Players – “Spiritualized” (Clean Feed) Ler

2006 Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “Teatro” (European Echoes, 2006) Ler

2007 Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro, Tomas Ulrich e Ken Filiano – “Surface” (European Echoes, 2007) Ler

2009 Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “The Abstract Truth” (European Echoes, 2009) Ler

2009 Rodrigo Amado – “Motion Trio” (European Echoes, 2009) Ler

2010 Rodrigo Amado, Taylor Ho Bynum, John Hébert e Gerald Cleaver – “Searching for Adam” (Not Two Records) Ler

2012 Rodrigo Amado Motion Trio featuring Jeb Bishop – “Burning Live at Jazz ao Centro” (JACC Records) Ler

2013 Rodrigo Amado Motion Trio featuring Jeb Bishop – “The Flame Alphabet” (Not Two Records) Ler

2014 Rodrigo Amado Motion Trio featuring Peter Evans – “Live in Lisbon” (NoBusiness Records) Ler

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[Especial Rodrigo Amado] Rodrigo Amado Wire Quartet em “Wire Quartet”, 2014

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2014 não terminaria sem a edição de mais um disco de  Rodrigo Amado. Foi a estreia do Wire Quarteto com Manuel Mota, Hernâni Faustino e Gabriel Ferrandini:

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Rodrigo Amado Wire Quartet – “Wire Quartet” (Clean Feed Records, 2014)

Este foi, de todos os meus discos, o mais difícil de produzir. Gravado em Janeiro de 2011, levou três anos a ser editado. A decisão de formar o Wire Quartet surgiu pela vontade grande que tinha de trabalhar com o Manuel Mota. Já tinha tocado com ele no passado, mas sentia que o Manuel era um daqueles músicos verdadeiramente especiais, com os quais é um previlégio desenvolver algo. A forma como toca guitarra, além de profundamente pessoal, é desafiadora, provoca as pessoas, no bom sentido, é desarmante e desconcertante. É muito difícil encontrar músicos que dominem de forma tão consistente uma linguagem tão diferente e original. Fizemos um primeiro concerto em 2007, na ZDB, na altura ainda com o Peter Bastiaan na bateria e sob a designação de Rodrigo Amado Quarteto, e senti de imediato que aquela poderia ser uma segunda “working band”, com um conceito musical completamente diferente do Motion Trio. Quando o Gabriel se juntou ao grupo, na sequência natural de estarmos sempre juntos a practicar na sala da Trem Azul e partilharmos inúmeros outros projectos, dei o nome de Wire Quartet ao grupo, numa alusão às cordas da guitarra do Manuel. Em Janeiro de 2011 estivemos dois dias em estúdio e a quantidade de material gravado era bastante extensa. Mas o que realmente dificultou os passos seguintes foi a complexidade da música. Acho que naquela altura não estava verdadeiramente preparado para processar aquele grau de abstracção e liberdade. Andei durante dois anos às voltas com as gravações, em dezenas de sessões de escuta, partilhando opiniões com outros músicos e amigos, e quando tinha finalmente chegado a um alinhamento final, senti que havia ali algo em que não acreditava e suspendi o processo. Apenas bastantes meses mais tarde consegui tornar a ouvir as gravações. Nessa altura fiz a substituição de um tema e, finalmente, o disco começou a soar. Foi curioso que, em relação aos três discos editados neste ano, a crítica dividiu-se. Houve quem escolhesse o Freedom Principle ou o Live in Lisbon como dos melhores do ano, mas houve também quem tenha optado pelo Wire Quartet – foi disco do ano para inúmeros críticos e sites internacionais, inclusive para a revista Jazzman – e quem tenha dito que estava ali o meu melhor trabalho de sempre. Foi esse o caso do Brian Morton (crítico responsável pelo famoso Penguin Guide) que escreveu: “Este é o seu trabalho mais entusiasmante e coerente até à data. Quando a maior parte dos paradigmas de virtude musical envolvem elevação, ascensão e transcendência, Rodrigo Amado leva-nos para o elemento central, para a essência.” Morton refere-se ainda ao estilo do Manuel como sendo uma junção de Derek Bailey, Sonny Sharrock e Arto Lindsay. No início de 2015 fomos novamente para estúdio gravar o segundo àlbum da banda. A sessão foi incrível. Vamos agora ver quanto tempo demora a produzir.

Rodrigo Amado

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2006 Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “Teatro” (European Echoes, 2006) Ler

2007 Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro, Tomas Ulrich e Ken Filiano – “Surface” (European Echoes, 2007) Ler

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2014 Rodrigo Amado Motion Trio featuring Peter Evans – “Live in Lisbon” (NoBusiness Records) Ler

2014 Rodrigo Amado Motion Trio featuring Peter Evans – “The Freedom Principle” (NoBusiness Records) Ler

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[Especial Rodrigo Amado] Rodrigo Amado, Joe McPhee, Kent Kessler e Chris Corsano em “This Is Our Language”, 2015

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E chegámos ao fim deste extraordinário especial sobre a vida e obra do saxofonista  Rodrigo Amado. Foi um enorme prazer disponibilizar neste espaço os textos que o Rodrigo foi escrevendo ao longo destas últimas três semanas. Muito obrigado.

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Rodrigo Amado, Joe McPhee, Kent Kessler e Chris Corsano – “This Is Our Language” (Not Two Records, 2015)

Falar deste disco, editado o ano passado, implica recuar até ao final de 2012, um dos períodos mais intensos da minha vida. Nessa altura preparava-me para inaugurar “Un Certain Malaise”, a minha 4ª exposição individual de fotografia, desta vez no Museu da Electricidade, em Lisboa. Para trás ficavam “Close Closer”, na Kameraphoto, em 2007, “Searching For Adam”, na Galeria Módulo, em 2008, e “East Coasting”, também na Módulo, em 2009 (passou ainda pelo Museu da Imagem, em Braga). Nesta exposição, com imagens tiradas em cidades europeias como Berlim, Moscovo, Varsóvia e Copenhaga, foi-me dada a hipótese de editar um livro, oportunidade que agarrei sem hesitar. Fiz um convite improvável ao Gonçalo M. Tavares que, surpreendentemente, aceitou e editei o meu primeiro livro de fotografia com textos inéditos do Gonçalo. Para além disso, como se já não bastassem motivos de stress e preocupação, marquei dois concertos; um para o dia da inauguração, 29 de Novembro de 2012, com os Lisbon Improvisation Players (Carlos Zíngaro, Rodrigo Pinheiro, Miguel Mira e Gabriel Ferrandini), tendo como convidado super especial o Joe McPhee; e um outro, dois dias depois, no CCB, com o quarteto que gravou This Is Our Language. Ter o Joe ao meu lado naquele dia tão especial foi bastante importante e acho que a energia dele, de absoluta paz, passou para mim. Estive super tranquilo e a inauguração não podia ter corrido melhor. Foi uma festa. O Joe é um músico cuja obra ainda hoje continuo a descobrir. Não há, como no caso do Ornette, um disco específico que me tenha influenciado particularmente, mas sim toda a sua música, e muito particularmente a personalidade como improvisador, a criatividade inesgotável. É também uma referência como pessoa, com uma energia e alegria contagiantes. Tem 76 anos (!?) e parece um miúdo. Encontrei-o por diversas vezes em Nova Iorque e em todas essas ocasiões senti uma empatia imediata. Quando o Joe chegou a Lisboa para tocar com os Lisbon Improvisation Players no Museu da Electricidade, uns dias antes do concerto do CCB, foi como se já nos conhecêssemos há largos anos, e tocar com ele foi tão natural como tinha imaginado que seria. Sinto que essa cumplicidade passou para a música que gravámos no estúdio, no dia seguinte ao concerto. Este foi o último disco que editei (na mesma altura foi editada a minha última colaboração com os Black Bombaim, Live At Casazul, também com o Isaiah Mitchell e o Shela) e encontro-me agora em fase de produção e misturas de quatro novos álbuns. Tal como já aconteceu no passado por diversas vezes, o período que se segue a um período de edições é de reflexão, uma altura em que questiono qual o caminho a seguir, quais as prioridades, quais os desafios que pretendo atacar. Isso é muito importante para manter o que faço ligado à realidade, vital. Aquilo que toco e a forma como integro melodia, harmonia e ritmo no meu discurso é totalmente intuitiva, nada estudada ou premeditada, e é influenciada por uma diversidade imensa de sons, do jazz ao hip-hop, rock, pop, clássica contemporânea, folk, funk, música brasileira, ambient, noise, improvisação livre… estou sempre a ouvir música e a descobrir novos discos, novos sons. Interessa-me isso, essa verdade – o que é que eu, a viver aqui neste período específico do tempo, a ouvir toda esta música, vou tocar? Quem é que eu sou, musicalmente? Como é que vou conseguir, no momento de tocar, esvaziar-me de todas estas influências e fazer algo que seja meu?

Rodrigo Amado

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2003 Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro e Ken Filiano – “The Space Between” (Clean Feed) Ler

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2010 Rodrigo Amado, Taylor Ho Bynum, John Hébert e Gerald Cleaver – “Searching for Adam” (Not Two Records) Ler

2012 Rodrigo Amado Motion Trio featuring Jeb Bishop – “Burning Live at Jazz ao Centro” (JACC Records) Ler

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2014 Rodrigo Amado Motion Trio featuring Peter Evans – “Live in Lisbon” (NoBusiness Records) Ler

2014 Rodrigo Amado Motion Trio featuring Peter Evans – “The Freedom Principle” (NoBusiness Records) Ler

2014 Rodrigo Amado Wire Quartet – “Wire Quartet” (Clean Feed Records) Ler

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[Especial Rodrigo Amado] “The Space Between” com Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro e Ken Filiano, 2003

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Hoje, Rodrigo Amado leva-nos até aos dias do seu primeiro encontro em disco com Carlos Zíngaro e Ken Filiano. Estávamos em 2003 e o disco chama-se “The Space Between”.

spacebetweenRodrigo Amado, Carlos Zíngaro e Ken Filiano – “The Space Between” (Clean Feed, 2003)

Os cerca de quatro anos e meio que passei na editora e distribuidora Trem Azul – saí em 2005 – foram incríveis. No início, o nosso escritório era num Centro Comercial decadente e meio abandonado em Santo Amaro de Oeiras. Um sítio meio deprimente que me fez muitas vezes pensar o que estava ali a fazer. A distribuição de discos – não apenas jazz – começou a correr bem, essencialmente porque eramos todos super especialistas e gostávamos do que estávamos a fazer. Em poucos meses já estavamos instalados numa vivenda com jardim virado para o jardim de Santo Amaro (onde existe um McDonalds). Esse escritório era o oposto do primeiro, era um autêntico paraíso. Saíamos quando nos apetecia para beber um café na praia, tínhamos uma vista fabulosa…. apesar do trabalho – sempre a abrir – parecia que estavamos sempre de férias. Para além da distribuição de discos, que era o que nos dava dinheiro, a nossa estratégia para a editora era organizar concertos com músicos que admirávamos – nesta fase, principalmente norte-americanos – e aproveitar para os gravar e editar. Com a edição do primeiro disco da Clean Feed – The Implicate Order “Live at Seixal”, onde eu também toco como convidado – começámos a estabelecer ligações fortes de amizade com alguns desses músicos. Os primeiros a fazer “parte da família” foram os que formavam os Implicate Order – o trombonista Steve Swell, o contrabaixista Ken Filiano e o baterista Lou Grassi. É difícil explicar por palavras o que significou para mim conhecer e ter a oportunidade de tocar com estes músicos, depois de anos a tocar apenas com músicos Portugueses e a sentir-me totalmente underground e isolado no nosso país. Já para não falar que era para mim totalmente inimaginável que iria um dia tocar com algum desses músicos que ouvia nos discos. O Steve Swell, por exemplo, com quem fiz dezenas de concertos nessa fase inicial da Clean Feed era já reconhecido como um dos mais importantes trombonistas de jazz do mundo. Isso foi para nós uma enorme lição de humildade, uma lição sobre a acessibilidade de pessoas que admiramos e mostrou-nos que, na realidade, tudo o que é necessário para que as coisas comecem a acontecer é entrar em contacto, comunicar. E essa foi uma lição que levei bastante a sério a partir daí. Este trio, “The Space Between”, foi gravado numa das muitas visitas que o Ken Filiano fez ao nosso país, e representou para mim uma enorme revelação sobre as minhas próprias capacidades como músico e sobre aquilo que queria fazer como improvisador. Foi aqui que decidi dedicar-me exclusivamente (nos projectos que assino em nome próprio) à total improvisação, sem nunca discutir ou falar sobre aquilo que vai ser tocado ou gravado. Tem sido assim desde essa altura. Foi também neste período que comecei a trabalhar mais conscientemente no conceito de composição em tempo real.

Rodrigo Amado

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Lisbon Improvisation Players ‎– “Live_LxMeskla” (Clean Feed, 2002) Ler

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[Especial Rodrigo Amado] “Motion” com Lisbon Improvisation Players, 2004

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E eis que em 2004, Rodrigo Amado volta a juntar os Lisbon Improvisation Players, agora com Steve Adams, Ken Filiano e Acácio Salero. Foram assim os dias de “Motion”.

motion

Lisbon Improvisation Players – “Motion” (Clean Feed, 2004)

Gravado em Agosto de 2002 nos estúdios Musicorde, em Campo de Ourique, este álbum marcou uma época em que eu estava, literalmente, “nas nuvens”. Antes de mais pela oportunidade de tocar e gravar com o Steve Adams, saxofonista dos Rova Saxophone Quartet, um dos grupos que mais me influenciou e uma das formações de sopros mais importantes do mundo – juntamente com os World Saxophone Quartet. O que mais me marcou neste encontro, para além do absoluto deslumbramento de estar em palco e em estúdio com um saxofonista deste calibre técnico e criativo, foi aperceber-me de capacidades minhas, sobretudo a nível técnico, que eu nem sonhava que tinha. O encontro e a convivência musical com o Steve fez-me crescer e ir buscar, de forma intuitiva, recursos técnicos relacionados com coisas que já tinha óbviamente trabalhado mas que nunca tinha utilizado. Desde aí, fiquei sempre com a certeza de que a melhor forma de evoluirmos é tocar com músicos melhores do que nós. Outra das razões para eu estar mesmo feliz nesta altura foi o facto de que o Steve estava em Portugal para tocar com os Lisbon Improvisation Players no Jazz em Agosto da Gulbenkian. A formação era a mesma que foi para estúdio – eu em saxofones tenor e barítono, o Steve Adams em saxofones tenor e sopranino, o Ken Filiano no contrabaixo e o Acácio Salero na bateria. Foi também neste período que comecei a desenvolver mais intensamente um interesse por fotografia. Na editora (Clean Feed) era eu quem coordenava toda a parte gráfica e de design com o Rui Garrido. Algumas das capas eram desenvolvidas a partir de ideias dele, outras de ideias minhas. Para esta capa fui buscar uma foto do Daniel Blaufuks que me fascinava – a imagem das pessoas a andar entre os raios de luz que criava uma ligação directa com o nome do álbum. Sempre fui absolutamente obcecado com a parte gráfica e conceptual dos meus discos, talvez por se tratar de música improvisada e assim ser possível reforçar a coerência e unidade de cada projecto. Depois de ultrapassada a fase de audição e selecção das gravações – em dezenas, se não centenas de sessões – e a fase de mistura e masterização, dou início a uma fase final em que, de acordo com o espírito e energia da música, crio um conceito que envolve o nome do disco, os nomes dos temas e o design gráfico do álbum. Foi com este disco que eu senti pela primeira vez que tudo estava no “lugar” certo, e a foto do Daniel foi muito importante. Durante este período (2003 / 2004) fiz fotografias para capas do Paul Dunmall (Bridging), Carlos Barretto (Lokomotiv), Ethan Winogrand (Made in Brooklyn), João Paulo Esteves da Silva (As Sete Ilhas de Lisboa), Julius Hemphill Sextet (Hard Blues), Bernardo Sassetti (Indigo), Dennis Gonzalez (New York Midnight Suite), e os TGB do Mário Delgado, Sérgio Carolino e Alexandre Frazão (Tuba, Guitarra e Bateria). Foi um período mágico em que aconteceu outros dos encontros que mais me fizeram crescer como músico – um concerto histórico no Teatro Ibérico, em 2003, com o Bobby Bradford (trompetista que gravou com Ornette Coleman os álbuns Science Fiction e Broken Shadows), Joe Giardullo (sax), Ken Filiano (contrabaixo) e Alex Cline (bateria). Esta era uma verdadeira dream band e o encontro só foi possível pelo facto de que o Bobby e o Alex integravam o quarteto Bobby Bradford / Vinny Golia que actuava esse ano na primeira (e histórica) edição do Festival Jazz ao Centro, em Coimbra, e ainda numa série de datas no Hot Clube, em Lisboa. Sendo o Ornette talvez a minha principal influência de sempre como saxofonista, este encontro com o Bobby Bradford foi para mim uma coisa do outro mundo. E o concerto no Teatro Ibérico foi incrível!

Rodrigo Amado

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[Especial Rodrigo Amado] “Spiritualized” com Lisbon Improvisation Players, 2006

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Em 2006 e mantendo um ritmo de edições assinalável, Rodrigo Amado voltava à carga com os Lisbon Improvisation Players, agora na companhia de Dennis Gonzalez, Pedro Gonçalves, Bruno Pedroso e Ulrich Mitzlaff. Sobre esse, o músico diz-nos:

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Lisbon Improvisation Players – “Spiritualized” (Clean Feed, 2006)

Gravado em 2004 nos estúdios Cha Cha Cha, em Miraflores, o terceiro álbum dos Lisbon Improvisation Players (a foto da capa é minha, tirada próximo do escritório da editora, em Santo Amaro)
marca o encontro com o trompetista Texano Dennis Gonzalez naquele que foi um dos acontecimentos mais importantes do meu percurso como músico. Os primeiros contactos com o Dennis aconteceram durante o processo de design da capa de New York Midnight Suite, editado neste mesmo ano e cuja capa tem também uma fotografia minha. Conhecia bem a música dele através dos discos que tinha gravado nos anos 80 para a label sueca Silkheart, e era naquele período um dos músicos que mais me fascinava. Quando lhe fiz o convite aceitou de imediato e o nosso encontro em Lisboa foi fulgurante – como se nos conhecêssemos há muito mais tempo. Esse foi um fenómeno que se repetiu por diversas vezes ao longo dos anos – a empatia profunda e imediata com músicos que conhecia apenas através dos discos e cujas afinidades adivinhava através da música, de forma puramente intuitiva. Posso dizer que até hoje, nas dezenas de convites feitos a músicos estrangeiros, com os quais acabei por tocar e gravar, nunca fiquei desiludido. Antes pelo contrário. Mas regressando ao encontro com o Dennis, a nossa relação musical e pessoal continuou a evoluir ao longo dos anos, apesar deste ser o meu único disco onde o Dennis participa. Em 2006 o Dennis convida-me para uma digressão na east coast dos Estados Unidos com o grupo dele, Yells at Eels. Foi a minha primeira digressão no país (viria a fazer mais duas) e foi a primeira vez que estive em cidades como Austin, Houston ou Filadélfia. Já tinha estado nos EUA três vezes antes – em 1997 para uma visita (a primeira) a Nova Iorque; em 2001 para uma longa viagem, costa a costa, que durou cerca de um mês e meio, com início em São Francisco, descida de toda a costa passando por Los Angeles e San Diego até ao México (Baja California), para depois voltar a subir, fazer parte da Route 66, passar por Memphis e terminar a viagem em New Orleans (escusado será escrever o quanto esta viagem me marcou); e uma outra em 2005, onde fiz dois concertos em Nova Iorque (um deles uma verdadeira aventura, por me ter caído uma peça do saxofone logo no início do concerto – o meu primeiro concerto em NY!! – e mesmo assim ter terminado sem ninguèm dar por nada e com todo o público de pé a aplaudir) e dois outros em Dallas, também com o Dennis. Nesta primeira tour americana senti verdadeiramente que estava a viver um sonho – andar na estrada (estilo old school, numa carrinha de oito lugares) com músicos americanos, a tocar em todo o tipo de salas, desde auditórios para 300 pessoas a caves underground onde tocávamos para um público de punks (literalmente). Foi histórico. Mais tarde, em 2008, nova ocasião especial, com um convite para integrar a extensa digressão polaca dos Yells at Eels, organizada por um milionário Polaco. Viajávamos numa carrinha super confortável, ficávamos em hoteis incríveis e fizemos refeições épicas…enfim… um excesso completo. Fizemos cerca de 8 datas passando por alguns dos clubes mais importantes na Polónia e gravámos (ao vivo) o disco The Great Bydgoszcz Concert para a Ayler Records. Acho que foi o período one senti uma evolução mais intensa e consistente na minha forma de tocar. Andar na estrada é a maior escola. No ano seguinte fui novamente convidado pelo Dennis para fazer duas datas em Espanha – Madrid e Barcelona. Hoje, apesar da distância, o Dennis é como um irmão para mim, um irmão musical, e continua a ser uma das minhas grandes inspirações. O nome que dei na altura ao disco refere-se a isto mesmo.

Rodrigo Amado

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[Especial Rodrigo Amado] “Teatro” com Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love, 2006

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Ainda em 2006, Rodrigo Amado voltaria a surpreender-nos com um novo disco, agora na companhia de Kent Kessler e Paal Nilssen-Love. O disco chama-se “Teatro”:

TEATROPRESSCOVER

Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love – “Teatro” (European Echoes, 2006)

Gravado em Fevereiro de 2004 no Teatro São João, no Porto, Teatro marca o início de uma nova fase na minha música. Apesar de sentir que já tinha conquistado uma identidade comum para todos os meus projectos, não tinha ainda conseguido reunir uma working band, uma formação estável com a qual pudesse trabalhar todos os dias obrigando a música a transformar-se e evoluir. O trabalho realizado com o Pedro Gonçalves (contrabaixo), o Bruno Pedroso e o Acácio Salero (ambos na bateria) tinha chegado a um ponto onde era difícil evoluir sem trabalho intenso diário, algo que era difícil fazer acontecer pelas múltiplas outras solicitações que eles tinham, nas mais diversas áreas. Todos eles músicos tremendos e grandes improvisadores, tinham sido sem dúvida determinantes para a minha evolução musical ao longo dos últimos anos, mas sentia agora que tinha de levar a música para um novo patamar de intensidade e emoção, procurando músicos com os quais partilhasse uma maior afinidade estética e uma maior ligação emocional. Tinha começado a fazer viagens regulares a Marrocos, aproveitando para tocar com músicos locais, em Marraquexe ou Essaouira. Numa das várias passagens de ano que passei no país, fui convidado para tocar numa festa onde estavam apenas Marroquinos (nem um ocidental) integrado numa banda de Gnawa local. Tocávamos durante cerca de uma hora, alternados com um outro grupo Berber que tinha duas mulheres a cantar de forma transcendente. Isto durante toda a noite – uma hora nós, uma hora eles – até que a festa começou a tomar conta dos acontecimentos e acabámos a tocar todos juntos. As sessões de música em Marrocos foram sempre grandes lições sobre contenção e acima de tudo sobre o papel do tempo na música. Eles quando se juntam para tocar é sem horizonte temporal definido – podem ser 3 horas como podem ser 6 ou 7 – e é sempre uma experiência espiritual. Em Lisboa, durante esta fase, sentia-me um pouco isolado. Não pertencia ao meio do jazz, mas também não pertencia ao meio da livre improvisação, apesar de ter inúmeros amigos e colaboradores em ambas as áreas. Não existia ainda uma cena jazz mais criativa como existe hoje. Foi também o período em que o absoluto equilíbrio e harmonia que tinha marcado os primeiros anos da Trem Azul e da Clean Feed começava a sofrer alterações. Entraram novos sócios para a empresa e a minha dedicação aos próprios projectos estava a retirar energia e foco para os assuntos da empresa. Na realidade, era o Pedro Costa que estava a assumir a maior parte das responsabilidades e trabalho (eu e ele éramos os sócios maioritários). Eu estava frequentemente absorvido a pensar em novas colaborações, concertos, misturas de discos, etc. Quando as coisas chegaram a um ponto de rutura, decidi sair. Mas foi num desses momentos de incerteza e procura que surgiu o convite do Pedro Santos para participar no festival que ele produzia e programava no Teatro São João, o Spectrum. O convite surgiu com total liberdade para que eu escolhesse com quem queria tocar, sendo que havia verbas para viagens, alargando a escolha a músicos internacionais. A minha escolha imediata foi para o Paal Nilssen-Love (bateria), que era na altura denominador comum numa série de projectos que andava a ouvir intensamente. Depois pensei na hipótese de tocar em trio, de forçar uma exposição maior do que aquela que existe quando tocamos em quarteto, e pensei no Kent Kessler, pelo som poderoso mas também pelo elemento de groove que coloca sempre na música. Os dias que antecederam o concerto foram de alguma apreensão e nervosismo – sabia que este era um enorme desafio, ia tocar com dois instrumentistas brutais e ia estar totalmente vulnerável. Eles chegaram na véspera e no dia seguinte já estávamos a gravar (Teatro foi gravado durante o sound check da tarde, e não durante o concerto). Ainda hoje, este é um dos discos mais importantes e simbólicos da minha discografia. Foi sem dúvida um dos pontos de viragem (nota: a capa é retirada de uma pintura do meu pai, Manuel Amado).

Rodrigo Amado

Artigos anteriores:

2002 Lisbon Improvisation Players ‎– “Live_LxMeskla” (Clean Feed) Ler

2003 Rodrigo Amado, Carlos Zíngaro e Ken Filiano – “The Space Between” (Clean Feed) Ler

2004 Lisbon Improvisation Players – “Motion” (Clean Feed) Ler

2006 Lisbon Improvisation Players – “Spiritualized” (Clean Feed) Ler

O post [Especial Rodrigo Amado] “Teatro” com Rodrigo Amado, Kent Kessler e Paal Nilssen-Love, 2006 aparece primeiro no A Trompa.

Especial: Old Jerusalem & Alla Polacca em “Old & Alla” (2002)

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Em ano de mais um novo e grande disco, “A Rose Is a Rose Is a Rose” [ouvir no spotify] , Old Jerusalem será a razão de mais um super-especial n’a trompa. Será o próprio Francisco Silva a falar-nos sobre a sua música, sobre os seus discos, sobre esses dias de feliz criação. A trompa dá o mote, o artista continua…
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2002
“Old & Alla” – Old Jerusalem / Alla Polacca (BorLand)

No ano em que um atentado terrorista com aviões destruiu as torres gémeas do World Trade Center e parte do Pentágono, Old Jerusalem

…estava a dar os seus primeiros passos. A ideia de desenvolver um projecto musical centrado na escrita de canções e cuja designação seria de “Old Jerusalem” terá surgido entre 1999 e 2000. Algumas das canções que ainda hoje formam parte do repertório de Old Jerusalem são inclusivamente anteriores a esse período e foram interpretadas por outras bandas de que fiz parte, mas a linha estética definidora do “carácter” de Old Jerusalem surge por esta altura, 1999-2000.
Foi também neste período que pus a circular em alguns meios, já sob a designação de Old Jerusalem, um CD-R (ou cassette?) com demos bastante cruas gravadas em 4 pistas de um conjunto de canções de minha autoria. O objectivo era tentar entrar num circuito muito interessante, ainda que marginal, de actividade musical independente que na altura demonstrava alguma vitalidade, com editoras como a LowFly, a Milshake/Bee Keeper, a Garagem, entre outras, e as bandas de vários quadrantes estéticos que lhes estavam associadas. Foi encorajador na altura cruzar-me com o trabalho de alguns artistas que não viam constrangimentos no carácter artesanal e pouco polido da estética “low fi”, principalmente alguns nacionais como os Leeand Me (de que fazia parte a Mariana Ricardo e que deixaram uma marca forte na minha memória apesar de apenas ter ouvido uma ou duas canções no programa do Henrique Amaro – entretanto, passados todos estes anos, conheci a Mariana e “pedinchei-lhe” uma cópia dos dois 7” que os Leeand Me editaram ☺), o Pequeno Aquiles (do Jorge Cruz), os Toast, os Clockwork, os Orange e, a outro nível mas com o mesmo enfoque nas canções que pretendia atribuir ao meu trabalho, os Sequoia (o “Fruit and songs” foi um disco importante, não só por ser em si um belo disco, mas porque demonstrou que havia gente cá a praticar a estética que eu pretendia também trabalhar com Old Jerusalem) ou mesmo os Silence 4.
Um desses CD-Rs que fiz foi endereçado ao Rodrigo Cardoso, que não conhecia mas de quem sabia que estava a iniciar um projecto editorial independente – a Bor Land. O Rodrigo interessou pelas canções e entrou em contacto comigo para agendarmos uma conversa, que serviria para nos conhecermos e falarmos sobre uma possível colaboração.
Esse foi seguramente o ponto de viragem para Old Jerusalem, porque na Bor Land e nas pessoas que gravitavam em torno desse projecto editorial encontrei uma pequena comunidade de pessoas muito interessantes e dinâmicas, com gostos e propósitos comuns e dispostos a trabalhar de forma muito determinada e empenhada para “dar à luz” e pôr a circular pequenos objectos de expressão musical e artística, como é este primeiro split-EP/demo de Old Jerusalem e Alla Polacca.

Francisco Silva

O post Especial: Old Jerusalem & Alla Polacca em “Old & Alla” (2002) aparece primeiro no A Trompa.


Especial: Old Jerusalem em “April” (2003)

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Em ano de mais um novo e grande disco, “A Rose Is a Rose Is a Rose” [ouvir no spotify] , Old Jerusalem será a razão de mais um super-especial n’a trompa. Será o próprio Francisco Silva a falar-nos sobre a sua música, sobre os seus discos, sobre esses dias de feliz criação. A trompa dá o mote, o artista continua…

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2003
“April” – Old Jerusalem (Bor Land)

No ano em que o vaivém Columbia se desintegrou fatalmente durante o regresso à atmosfera terrestre depois de realizar uma missão experimental com gravidade zero, Old Jerusalem

…preparava-se para o que na altura parecia um passo importante: o lançamento do primeiro disco de longa duração! A parceria com a Bor Land estava a desenvolver-se muito bem e por intermédio do Rodrigo tinha-se estendido ao estúdio AMP e ao Paulo Miranda. Foi no AMP que gravei os temas constantes do “Old & Alla”, e o Paulo interessou-se muito na altura por Old Jerusalem. Na verdade, logo no primeiro dia em que visitei o estúdio demo-nos conta de um certo alinhamento estético entre nós: pousado na mesa de mistura (ou em algum outro dos misteriosos aparelhos que preenchiam os estúdios antes de todas aquelas coisas se tornarem em “apps” ☺) estava uma cópia de um disco que se tinha tornado uma audição regular para mim – o “Essence”, da Lucinda Williams – e esse pequeno facto iniciou uma conversa que diria que dura até hoje. ☺ Soube depois que o Paulo Miranda tinha ele próprio gravado e lançado recentemente um disco muito centrado em canções e com a mesma matriz anglo-saxónica que era no fundo a base das canções de Old Jerusalem (o curioso projecto The Unplayable Sofa Guitar) e estou em crer que esse interesse estético mútuo terá despertado o interesse dele em Old Jerusalem e a vontade de trabalhar comigo. O que quer que seja que tenha despertado o interesse do Paulo no projecto, a verdade é que foi ele o grande impulsionador do “April”, ao propor-me um negócio bastante interessante, com contrapartidas que eram totalmente praticáveis, o que na prática permitiu que o disco viesse a existir.
Não se pode dizer que o trabalho no álbum tenha sido fácil, de facto foi até muito frustrante. À inexperiência juntou-se a consciência das minhas fortes limitações interpretativas, composicionais, etc, e este período foi muito marcado por uma grande sensação de insegurança e dúvidas sobre se realmente valia a pena dar continuidade a um projecto musical próprio. De qualquer forma, parte do acordo com o Paulo implicava que o trabalho fosse desenvolvido e finalizado, e assim foi. Com mais ou menos reservas, mas também com bastante “adrenalina” e entusiasmo o disco foi feito, assegurando a Bor Land a sua edição, e a partir daí creio que se começou efectivamente a delinear o futuro da actividade de Old Jerusalem. O disco foi muito bem recebido e ampliou a nossa base de acção, de contactos, etc, e intensificou a actividade quer da banda (que nesta fase era ainda essencialmente eu), quer da editora, estou em crer.

Francisco Silva

Artigos anteriores:
Old Jerusalem & Alla Polacca em “Old & Alla” (2002) – LER

O post Especial: Old Jerusalem em “April” (2003) aparece primeiro no A Trompa.

Especial: Old Jerusalem em “Twice the Humbling Sun” (2005)

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Em ano de mais um novo e grande disco, “A Rose Is a Rose Is a Rose” [ouvir] , Old Jerusalem será a razão de mais um super-especial n’a trompa. Será o próprio Francisco Silva a falar-nos sobre a sua música, sobre os seus discos, sobre esses dias de feliz criação. A trompa dá o mote, o artista continua…

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2005
“Twice the Humbling Sun” – Old Jerusalem (Bor Land)

No ano em que João Paulo II morreu, Old Jerusalem

…trabalhava uma vez mais num segundo disco, determinado em que fosse um pouco diferente do primeiro. Pretendia um disco mais despido mas simultaneamente mais denso, menos imediato em alguns aspectos mas mais directo também. Nesse sentido foi interessante que o Rodrigo me tivesse mostrado o desenho da Helena Reis como uma potencial capa para um disco meu, antes até de haver canções gravadas para este segundo trabalho, e que a meu ver ele fosse a ilustração perfeita para o tipo de ambiente que me parecia ter vontade de explorar. O trabalho no estúdio não se tornou substancialmente mais simples ou menos frustrante, mas como em tudo, vamos aprendendo a lidar com essas questões de forma mais natural. Entretanto Old Jerusalem tinha também iniciado uma actividade mais regular em termos de concertos, que eram também nesta fase por vezes penosos, mas nos quais uma vez mais íamos ampliando a rede de “cúmplices” do projecto, o que veio a revelar-se muito importante não só para a criação de um público, mas até mesmo para encontrar e iniciar comunicação com outras pessoas igualmente dedicadas a este propósito de fazer música, o que em distintos aspectos facilitou o modus operandi de Old Jerusalem e da Bor Land.
Mais uma vez, e surpreendentemente, o disco foi muito bem recebido pela crítica, e fomos tocando cada vez mais ao vivo, neste fase ainda em espectáculos a solo ou em duo com o Miguel Gomes (guitarra). Os espectáculos ao vivo eram muitas vezes exercícios “pouco convencionais” de apresentação das canções, desconfortáveis e inseguros, mas quando corriam bem resultavam num nível de comunicação com o público que era muito interessante e enriquecedor.

Francisco Silva

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Old Jerusalem & Alla Polacca em “Old & Alla” (2002) – LER
Old Jerusalem em “April” (2003) – LER

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Especial: Old Jerusalem, Bruno Duarte e Puny em “Splitted” (2006)

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Em ano de mais um novo e grande disco, “A Rose Is a Rose Is a Rose” [ouvir] , Old Jerusalem será a razão de mais um super-especial n’a trompa. Será o próprio Francisco Silva a falar-nos sobre a sua música, sobre os seus discos, sobre esses dias de feliz criação. A trompa dá o mote, o artista continua…

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2006
Splitted” – Bruno Duarte / Old Jerusalem / Puny (Bor Land)

No ano em que os ditadores Slobodan Milošević e Augusto Pinochet morreram, antes de terminarem os julgamentos por crimes contra a humanidade, Old Jerusalem

…curiosamente este foi um ano com alguma actividade, embora em termos de edições se cingisse a este split-EP lançado pela Bor Land, cujo conceito era apenas o de apresentarem-se canções gravadas em formato “lo fi”, em 4 pistas. A parte de Old Jerusalem é composta por uma canção inédita e 2 temas instrumentais improvisados, de uma série de gravações que ia fazendo experimentando essa espontaneidade. Tentava que as gravações ocorressem a horas muito tardias (entre as 2h e as 4h da madrugada), e por vezes acordava especificamente para improvisar algum trecho. Os temas eram de “composição instantânea” – improvisados no momento, sem qualquer preparação prévia, mas tomando por base uma primeira pista que, sendo improvisada também, deveria manter uma certa estrutura e não desviar-se demasiado dela. Eram experiências muito recompensadoras só por si, divertidas, e ao mesmo tempo permitiam-me “consolidar” a percepção de mim próprio enquanto músico, levando cada vez mais a sério o processo de composição e de exploração musical.
Foi também por este período que se materializou uma colaboração simultaneamente entusiasmante e aterradora para mim. A convite de uma amiga desenvolvi uma colaboração com o Carlos Bica, que foi apresentada em 2 ou 3 concertos e cuja base era essencialmente a partilha de temas entre os dois – eu escrevi letras e cantei e toquei alguns temas do Bica e ele acompanhava-me ao contrabaixo em canções minhas. Aos dois neste processo juntou-se também outro músico de excepção na guitarra eléctrica, o Mário Delgado.
Tenho ideia que foi também em 2006 que se intensificou a minha colaboração com o The Unplayable Sofa Guitar do Paulo Miranda, concretamente para o que viria a ser o disco “Rocky grounds, big sky” e os concertos promocionais que se seguiram.
Como dizia, foi um ano bastante activo para Old Jerusalem, em que adicionalmente se iniciaram os trabalhos nas canções que viriam a fazer parte do disco seguinte.

Francisco Silva

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Old Jerusalem & Alla Polacca em “Old & Alla” (2002) – LER
Old Jerusalem em “April” (2003) – LER
Old Jerusalem em “Twice the Humbling Sun” (2005) – LER

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Especial: Old Jerusalem em “The Temple Bell” (2007)

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Em ano de mais um novo e grande disco, “A Rose Is a Rose Is a Rose” [ouvir] , Old Jerusalem será a razão de mais um super-especial n’a trompa. Será o próprio Francisco Silva a falar-nos sobre a sua música, sobre os seus discos, sobre esses dias de feliz criação. A trompa dá o mote, o artista continua…

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2007
“The Temple Bell” – Old Jerusalem (Bor Land)

No ano em que a Apple lançou no EUA a primeira geração de iPhone, Old Jerusalem

…o iPhone pode quase ser visto como o símbolo da aceleração do ritmo das mudanças a que o negócio da música (e não só) esteve sujeito nos últimos tempos. Era um processo que já estava em marcha, mas parece-me que mesmo no caso de Old Jerusalem os efeitos se começaram a sentir de forma mais premente precisamente depois deste ano. Até 2007 ainda considerei – de forma meramente “académica” – a hipótese de me dedicar em exclusivo à música; depois, por vários motivos, abandonei a ideia de forma bastante definitiva.
Em 2007 a Bor Land lançou o terceiro disco de Old Jerusalem, “The temple bell”. Foi neste período que se foram lançando as bases do que posteriormente se tornou a “encarnação” de Old Jerusalem como banda propriamente dita, para o que em enorme parte contribuiu o facto de ter conhecido o Pedro Oliveira, baterista de múltiplos projectos que participou na gravação do “The temple bell” e que foi a base em que assentou Old Jerusalem ao vivo e em formato de banda desde esta altura.
O disco foi em geral bem recebido mas todos acusávamos algum cansaço, quer de parte de quem fazia o trabalho (músicos, produtor, editores), quer, estou em crer, de parte de quem o recebia (público e media). A Bor Land enfrentava já alguma indefinição quanto ao futuro, e começavam a sentir-se de forma mais aparente as dificuldades de gerir de forma independente um excelente catálogo que foi crescendo ao longo do tempo mas que demonstrava dificuldade em tornar-se rentável. Fizemos pela primeira vez um vídeo promocional para uma das canções do disco (“Her scarf”), em colaboração com o Pedro Lino, que foi também responsável pelo arranjo gráfico do disco. O trabalho foi assim continuando a tornar-se mais “sério” e todos fomos trabalhando com cada vez mais afinco em tornar a nossa “proposta” mais coesa, quer no que diz respeito à escrita das canções, à sua gravação, divulgação e apresentações ao vivo. Foi também neste sentido que tomei a decisão de encomendar a masterização do disco ao Alex Oana – um técnico de som que tinha conhecido há pouco tempo e com quem tinha desenvolvido uma certa amizade. O Alex tinha feito um disco que considero excelente, de um artista cujo trabalho admiro ainda bastante (“So pretty”, de Kid Dakota) e tinha-se oferecido para misturar uma canção de Old Jerusalem (o resultado foi a canção “Grasshoppers”), pelo que pareceu uma boa ideia aproveitar e pedir-lhe que tratasse também do tratamento sonoro final do álbum.
Não deixa no entanto de ser um pouco irónico que precisamente quando encarávamos todos os passos do processo de fazer música de forma mais “profissional” estivesse precisamente em curso uma certa “pulverização” desse trabalho, que veio a materializar-se mais tarde no encerramento da Bor Land no relativo desmembramento da pequena comunidade a ela associada…

Francisco Silva

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Old Jerusalem & Alla Polacca em “Old & Alla” (2002) – LER
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Especial: Old Jerusalem em “Two Birds Blessing” (2009)

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2009
“Two Birds Blessing” – Old Jerusalem (Rastilho Records)

No ano em que Barack Obama tomou posse como Presidente dos Estados Unidos, sendo o primeiro afrodescendente a ocupar esse lugar, Old Jerusalem

…Depois do lançamento e promoção do “The temple bell”, Old Jerusalem encontrou-se num certo impasse. Por um lado, havia um conjunto de canções em que estava já a trabalhar, mas sabendo, por contacto com o Rodrigo Cardoso e a Inês Lamares, da Bor Land, das dificuldades da editora, era ainda bastante incerto o rumo a dar ao trabalho. Uma hipótese seria esperar mais algum tempo para lançar o disco, para permitir que a Bor Land alcançasse um mínimo de estabilidade financeira que lhe permitisse dar seguimento à actividade editorial, mas essa era uma opção pouco apelativa para mim. Temia inclusivamente que a espera acabasse por resultar em desinteresse absoluto pelas canções e pelo trabalho de as editar. No entanto, nunca tive grande vontade de enveredar eu próprio no mundo da edição, pelo que a opção de lançar o disco em edição de autor tampouco era uma perspectiva apelativa para mim. A via para resolver este impasse acabou por surgir naturalmente, através de um contacto estabelecido no então ainda prevalente “Myspace”. De facto, por esta altura recebi um contacto do Pedro Vindeirinho, da Rastilho, manifestando interesse em eventualmente vir a colaborar com Old Jerusalem. Aceitei a proposta e o rumo tornou-se assim claro: continuaria as gravações das novas canções, a Rastilho editá-las-ia e a Bor Land mantinha a sua relação com Old Jerusalem enquanto agente dos concertos da banda. Uma colaboração tripartida deste género enfrenta sempre os seus obstáculos, mas lá fomos gerindo a nossa actividade, talvez de forma menos notória do que no passado, mas dando o que entendíamos ser passos inequívocos no “cimentar” do nosso percurso. O “Two birds blessing” aprofundou ainda um pouco mais uma tendência que tínhamos já experimentado no anterior “The temple bell”, de expandir a paleta sonora e introduzir mais músicos no processo de gravação. No final da promoção deste disco, no entanto, a minha vida pessoal tinha sofrido modificações muito consideráveis, tinha agora a minha própria família, e a Bor Land, por seu turno, encerrava definitivamente a sua actividade a todos os níveis, o que viria a abrir caminho a mais uma transição para Old Jerusalem, que mais uma vez surgiu de forma natural.

Francisco Silva

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